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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Em Defesa da Medicina Chinesa

O Fantástico deste domingo (29/08) mostrou uma matéria absurda descaracterizando a medicina chinesa e terapias alternativas. Abaixo segue minha resposta - desculpem a extensão, mas estes esclarecimentos são muito importantes para a saúde de todos nós.

Desacreditando as medicinas naturais


Foi realmente horrível terminar o domingo com uma matéria tão absurda e mentirosa quanto o novo quadro do Fantástico "É bom pra quê?". Respeito profundamente o Dr. Dráuzio Varella e seu trabalho, mas não é admissível uma matéria tão manipulada e tendenciosa quanto esta, cujo único objetivo é desinformar e confundir o telespectador, propagando a idéia errônea de que “só a medicina moderna salva”. Essa história de que a medicina ocidental moderna é a panacéia para todos os males e o resto é só superstição, volta e meia vem à tona. Se a ciência médica moderna curasse todos os males de modo eficaz e simples, não haveria “medicina alternativa”. As pessoas tomam chás justamente em virtude da ineficiência da medicina alopática moderna.

O foco de ataque principal da matéria, além dos tratamentos alternativos em geral, pareceu ser o Hospital de Medicina Alternativa de Goiás, único no Brasil a se dedicar unicamente às terapias alternativas. Um risco para vários interesses corporativos.

É óbvio que qualquer coisa pode ser perigosa à saúde, até água. Mas os “perigos” dos chás nem de longe se igualam aos perigos dos medicamentos químicos mal testados, ineficientes, perigosos (preciso citar a relação de medicamentos recolhidos todos os anos?) e muitas vezes mal receitados.

O doutor Juang Horng Jyh efetuou uma pesquisa com médicos brasileiros, para sua tese de doutorado na UNESP, que mostrou que 60% deles afirmou que na faculdade não tiveram aulas específicas para aprender a receitar um medicamento. E mais: 27% dos entrevistados se atualizam com a ajuda de vendedores dos laboratórios. E 73% admitiram que já receitaram remédios sem conhecer bem a composição deles. Ainda acham que o perigo está no chá da vovó?

Foi dito na matéria, sobre as práticas antigas, que “…mas enquanto a medicina era feita dessa maneira, epidemias matavam populações inteiras; éramos incapazes de impedir a progressão das doenças, ou mesmo de aliviar a dor. As pessoas morriam cedo e sofriam mais”.

Mentira. Pura propaganda. Epidemias estão historicamente relacionadas com saneamento básico e higiene e não com medicina. A cólera é um exemplo de doença que matou incontáveis milhões de pessoas e é causada apenas por falta de saneamento. Epidemias são combatidas com prevenção e não somente com cuidados médicos. Muitas doenças eram combatidas com medicinas antigas, especialmente as sofisticadas medicinas indiana e chinesa. As pessoas não estavam entregues à própria sorte, como parece afirmar a matéria. Sobre alívio da dor, indianos e chineses já utilizavam analgésicos enquanto a Europa pensava no que fazer com o Império Romano. Se acreditam que as pessoas antigamente sofriam mais, deveriam visitar as filas do SUS nos hospitais públicos brasileiros. A medicina moderna é maravilhosa para quem corre para um Sírio-Libanês ou Albert Einstein sempre que tem uma unha encravada.

Mas vamos nos concentrar nesta afirmação: “A milenar medicina chinesa era tão precária que, até o início do século passado, os chineses viviam, em média, pouco mais de 30 anos”.

Isso é um desrespeito para com uma medicina que se mostra cada vez mais atual, com testes e estudos científicos realizados em todo o mundo. Uma expectativa de vida mais alta se deve prioritariamente a fatores como facilidade de abrigo, fornecimento de alimentação, saneamento e higiene, mecanização do trabalho e ausência de conflitos armados. Não é a eficácia da medicina que delimita a expectativa de vida. Um declínio da mortalidade e aumento na expectativa de vida ocorreu na Europa a partir do século XVII, sendo que até meados do século XIX a Inglaterra viu a expectativa de vida saltar de 33 anos para acima dos 40. ANTES do advento da “maravilhosa” medicina moderna. Mesmo assim, segundo a OMS, a expectativa de vida mundial na virada do século XX era de 31 anos, logo a China não estava fora desse modelo. Os sofisticados europeus mal passavam dos 40 anos.

Apesar da “droga milagrosa”, penicilina e antibióticos, as infecções prosseguem e muitas bactérias se tornaram resistentes ou mesmo imunes a esses medicamentos. Deve-se ter em mente ainda que a ANVISA se mostrou preocupada, recentemente, com o excesso de prescrição destes medicamentos por médicos. Sim, por médicos.

Os chineses possuíam muitas fórmulas para isso, mas se enquadraria na “medicina precária” da China, não? Fórmulas com ervas para combater infecções existem desde a Dinastia Han (século II) e ainda são utilizadas, com sucesso.

O Hospital de Ditan, em Beijing, especializado em doenças infecto-contagiosas, desenvolveu este ano um composto de ervas para prevenir e combater a gripe suína. O tratamento com a fitoterapia chinesa se mostrou muito mais rápido e seguro e com um custo de 25% do tratamento alopático. Todas as pessoas que se submeteram ao teste foram curadas da gripe rapidamente e sem efeitos colaterais.

O Dr. Varella ainda perguntou ao Presidente do Conselho Federal de Medicina como ele via esses tratamentos com plantas. Deve ser piada. Não são os fornecedores de ervas que custeiam os maravilhosos seminários médicos, ou pagam viagens, ou refeições. Nem são quem patrocinam eventos e publicações médicas.

Na verdade, a fala do ilustre presidente serve exatamente para definir a medicina moderna, especialmente no Brasil: “Isso me parece muito mais um remendo, que transforma aquilo que deveria ser de qualidade num arremedo de um tratamento. As pessoas estão enganadas. As pessoas estão recebendo algo que não é o melhor.“

A verdade, mesmo, é que 80 a 90% das pessoas que adentram um consultório de terapia alternativa JÁ PASSOU por médicos, com seus exames e tratamentos maravilhosos. Não é incomum encontrar pessoas com 5Kg de exames ultra-modernos e laudos de uma dúzia de médicos, sem ter encontrado solução para seus problemas e, muitas vezes, sem nem ao menos um diagnóstico adequado. Por que será que as pessoas tomam chá?

Uma repórter ainda visitou vários postos de atendimento médico para um exame de seu pulso (cisto sinovial). Uma denúncia das longas filas de espera, atendimento mal feito, diagnósticos e prescrições erradas? Não, foi apenas para mostrar que a eficácia do tratamento alternativo se deve mais ao “efeito placebo”, causado pelo apoio humano do terapeuta alternativo em uma consulta de 40 minutos (e não de 1,5 minuto como no caso dos médicos). Uma clara demonstração de manipulação dos fatos para comprovar o que se deseja. Jornalismo de quinta categoria.

Ainda se utilizou casos extremos, de pacientes que tomaram chás para câncer, com grande ênfase. Será que pacientes que vão a um consultório médico do SUS saem com exames diagnosticando corretamente um câncer? Será que não se descobre a doença tarde demais? Será que médicos que não conseguem diagnosticar um cisto sinovial poderiam descobrir um tumor no fígado?

A aparência deste material veiculado no domingo é de matéria vendida segundo interesses alheios. As críticas ao sistema médico foram veladas e diluídas nas críticas ferozes aos tratamentos naturais. Não se pode conceber um material jornalístico sério que tenha como objetivo unicamente direcionar a opinião do telespectador. Informar não é conduzir.

Espero, sinceramente, que as próximas edições tenham um conteúdo mais informativo e imparcial, embora já tenha sido anunciado que o objetivo da série é mostrar que as ervas devem ser utilizadas apenas quando há evidências científicas. O que não se diz é que, nesses casos, as pessoas comuns ficam proibidas de indicar os produtos, que devem ser prescritos apenas por médicos e produzidos em farmácias. De volta aos “interesses ocultos” por trás do material.

 
Texto: Gilberto Antônio Silva
 
Fonte: http://vidaoriental.blogspot.com/
 
Comungamos da mesma opinião do autor do texto. A mídia usa muitas vezes de informações distorcidas para ludibriar a população, a qual é facilmente enganada devido seu baixo índice de informação.
 
Dr. Ewertom Cordeiro
Fisioterapeuta
Especialista em Acupuntura e Osteopatia